sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Varanda

   Da varanda via-se a rua. Toda ela carregada pela aurora, de violetas, rosas e laranjas. Olhava a antiga escola que se perdia entre as cores vivas da manhã. Todo aquele pátio deserto iria encher-se de alegrias e risadas em poucas horas e o dia ia ser longo e cheio.
   Passava uma alma, apenas, na rua da escola. Apressada, de gravata ao pescoço e pasta na mão, assim era ela. Passou.
   Tudo em paz, ouvindo atenta a sinfonia do vento, até descerem dos céus as vozes secundárias da orquestra. Estavam agora no centro da estrada de alcatrão sujo, procurando as divinas migalhas – dois belos pardais. Esvoaçaram rente ao chão, batendo de forma desesperada as asas. Já de bico, no que me parecia ser pão, o mais pequeno e desajeitado pousara de leve e enchia agora a goela. Vem de rasgão, o mais forte e de “gravata” mais carregada e longa, intrevir no sucedido. Olhava, agora, com mais atenção as duas aves, esquecendo toda a rua que começava a amarelar. Deu-se a esperada briga com fim a ficar com todos aqueles grãos. Levantou as asas e mostrou o seu porte ao pequeno pardalinho, que logo se rendeu perante tal corpanzil e voou… Para longe ou talvez mais. Pintou todo aquele vasto céu deixando para trás uma esperança de ter o que outros tinham a mais.
   Entrei e fechei a porta atrás de mim. E então pensei: “Foi justo?”