Adoro a imperfeição. Im-Perfeição.
Adoro a genialidade do “Im” que corta a estúpida suposição de que existe algo
não defeituoso. Perfeição: do latim “Perfectione” e significa primor e mestria
na sua totalidade. Ao que parece, a burrice humana já padece de muitos anos, e
o mais incrível é que nem o conhecimento empírico de tantos séculos abriu as
palas que levamos nos olhos. Esperava ansioso que a história de Portugal
guardasse a agradável surpresa de ter tido um rei que tivesse banido a tal
palavra e punido quem a usava com uma sentença de morte. Gostava que as
inovações científicas provassem a sua inexistência.
Sublime é o erro na sua qualidade
de omnipotência. Esplendorosa é a falha, que é única. Tranquiliza-me a sujidade
poeirenta que para em torno das coisas, acalma-me o espírito o que a tantos
incomoda. Não tapem os olhos! Ela está lá, existe: a imperfeição. Da mais miúda
à mais graúda, leva consigo a qualidade de ser genuína, espontânea, autêntica.
É feia e bonita. Feia de natureza, mas tão bela na maneira como se mostra e não
se envergonha de si mesma.
Todos a odeiam e eu sei porquê.
Ela vence a nossa vontade, é superior a nós e ao nosso querer, não ouve as
nossas súplicas. Somos tão fracos…
Abracemos esta pobre abandonada,
caída na miséria, derrotada na campanha partidária da perfeição (que tal como
os nossa política faz demasiado uso da retórica e promessas impossíveis). Apelo
ao vosso voto nesta minoria que se resume à dita cuja e a mim, já que ainda não
conheci ninguém que a amasse tanto quanto eu.
Imperfeição, terás sempre o meu
ombro. Eu te consolo, eu te afago, contigo partilho os meus sentimentos mais
profundos. Admiro a tua pureza, limpa de pensamentos gastos, reflexões e raciocínios,
não contaminada pela complexidade do nosso cérebro, tão genuína e imediata.
Porque és única e nos tornas únicos!
Promete-me que ficas até ao fim
da minha vida…