sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Vela de Pavio longo

  Entrou e cheirou, sem demoras, um vazio estranho. Olhou, entre segundos, e reparou. ‘Cá está. Já não está cá.’ Uma conclusão brilhante feita em meros grãos de tempo. A vela desaparecera. Tinha sido comprada em promoção numa dessas lojas por ruas não famosas, com o objectivo de preencher. Preencher. A pobre vela era agora de uma casa qualquer pouco famosa, por pouca coincidência, e vítima de futilidade. Passava dias, tardes e talvez noites na mesa da entrada a fazer o seu papel – preencher. ‘Há que preencher! Sou apenas uma futilidade de humanos. Há que preencher!’ – pensaria a pobre varrida do pavio.
  Caiu no desemprego quando certo dia se partiu em cacos. ‘Cá está. Já não está cá.’ Nesse mesmo dia ao chegar de rompante com cansaço a escorrer-lhe pela face reparou no vazio. A mesa da entrada tinha vazio. Nesse momento pensou ‘de cor era ela?’
  Se tivesse amigos contar-lhes-ia como reparou no vazio outrora preenchido por algo em que jamais reparara.