domingo, 4 de dezembro de 2011

Nas escadas do Metro

  No mesmo lugar, à mesma hora, da mesma forma, o homem estava sentado ao fundo das escadas do metro. Sob o seu olhar as pessoas que passam deviam parece-lhe todas iguais, como vultos que o desprezam – pensei. Sob aquele dia com cor de noite e chuva com força de mar, o homem estendia a mão em forma de concha. Mas não era uma concha; estava suja e com marcas de vida vivida, sofrida.
  No mesmo lugar, à mesma hora, da mesma forma, passei por um homem que estava sentado ao fundo das escadas do metro. Olhei, pensei e nada fiz. Olhei com medo de ver personificações de tristeza – sou apenas mais uma entre tantos cobardes. Pensei, mas pensar é vago. Nada fiz, e tornei-me num vulto que passou.
  Noutro lugar, a outra hora, de forma diferente, o mesmo homem andava no seio lisboeta fumando um cigarro – o boémio. As mãos não tremiam e era agora a personificação de uma tristeza diferente: a do espírito.
  Senti raiva? Não, senti culpa.