sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Unicórnio de Porcelana

Chora pobre alma
Vazia e cheia de nada
Correndo em campos maiores
E deixando correr a onda
na face.

A pobre cega vê.
Alimenta a dor
Que em tudo não crê
E luta meio mundo
sem arma.

Onde vai vagueando
Finge ser parte
De parte tão inútil.
E vê-se então sozinha
morta.

Garrafa de Vidro


  E ela disse ‘Sou feliz’ e desvaneceu por entre o ar além da porta. De pensamentos filosóficos não sou dotada, mas não me rendi a tais palavras. ‘Sou feliz’. Como poderá isso ser? Feliz. É ser alegre e contente e gabar-se de tal e da vida mesquinha que leva debaixo do braço! Não é inveja que se solta pela minha boca fora, é um sopro de revolta. Rebaixar ao mínimo o maior que se pode dar ao ser: felicidade.
  Lá vai o pequeno com a garrafa de vidro fino na cabeça, tropeçando, caindo e esfolando os joelhos rijos. Parte a garrafa. Segue a sua vida dura e tentativa após tentativa lá fica, no seu mundo, a rir por equilibrar tal delicadeza de vidro na cabeça mais modesta que a que eu ouvi falar. Está, então, feliz. Porque não a levara ele debaixo do braço?
  Ah vida desgraçada, que só estamos felizes quando andamos na lama e tudo é tão delicado como uma garrafa de vidro fino, como a felicidade.